O ritmo da estratégia

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Muito já se falou sobre o por que do sucesso ou insucesso das estratégias das empresas. Uma estratégia bem sucedida é aquela que consegue ser executada em determinado espaço de tempo. Entende-se por executar uma estratégia como alcançar os objetivos estratégicos definidos nesta.
Mas por que as estratégias falham?


Hoje vamos abordar aqui o ritmo da estratégia. Tudo deve ter um ritmo adequado ao seu ambiente. Não tem o melhor ou o pior, mas o adequado. Pode ser rápido ou lento, pode começar devagar em determinado período e mais rápido em outro. Com a estratégia não é diferente. Isso pode explicar por que muitas vezes uma mesma estratégia pode funcionar em uma empresa e ser um estrondoso fracasso em outra. Qual foi a diferença?

A diferença é que cada empresa tem seu ritmo, que é determinado sobretudo por sua cultura gerada pelas pessoas. O que acontece muitas vezes é que se busca um ritmo na estratégia que não tem nada a ver com o ritmo da empresa e isso não gera a cadência adequada. Sendo assim, devemos conhecer o ritmo aplicável e o ritmo não aplicável na estratégia.

Uma empresa nova que ainda está na fase de olhar somente o crescimento pode ter um ritmo mais rápido, pois sua equipe ainda está muito motivada com o novo. De outra forma, uma empresa que está se reestruturando de uma crise passada, precisa andar em um ritmo mais lento. Na competição corporativa o ritmo da estratégia escolhida vai fazer toda diferença entre vencedores e perdedores, mas o vencedor nem sempre é aquele que corre mais, como na fábula da corrida do coelho contra a tartaruga. Vai ganhar a corrida quem conseguir manter de forma mais constante a cadência que é a união entre ritmo de estratégia com o ritmo das pessoas que executam esta estratégia.

Em uma corrida de longa distância como uma maratona, temos vários tipos de participantes com seus objetivos. Existe aquele corredor de elite que corre para chegar em primeiro, aquele amador que corre para fazer um tempo de qualificação para outra prova, aquele que corre para completar a sua primeira maratona ou aquele que quer correr em um ritmo melhor que a prova anterior. Um corredor que se prepara para correr sua primeira maratona, busca encontrar durante o longo treinamento de meses o ritmo perfeito para conseguir completar os 42 quilômetros correndo. Ele sabe que se acelerar demais pode se machucar antes da chegada e se reduzir também demais, pode sofrer a fadiga por ficar muito tempo na pista. Nem sempre quem ganha é que chega na frente, mas quem aprendeu a correr de forma consistente.

No mundo corporativo, já vimos casos em que chegamos antes do tempo que deveríamos chegar gerando frustração e perda de recursos.
Trabalhei em uma empresa no início dos anos 2000 que contratou uma excelente equipe de técnicos para desenvolver aplicações para celulares, mas quando os primeiros produtos ficaram prontos ainda nem existiam os smartfones que conhecemos hoje, a velocidade de internet ainda se arrastava, o celular mais moderno da época ainda era o Startac da Motorola, Samsung e Apple, nem existiam. Conclusão, não existia ainda um mercado para aqueles produtos, a empresa não conseguiu segurar os custos de operação e a excelente equipe se dispersou.

Mesmo quando o mercado necessita de velocidade para novos produtos e serviços, não adianta tentar fazer uma equipe que tem um ritmo determinado seguir uma estratégia extremamente arrojada, essa união não vai gerar cadência adequada. Também não funcionará um ritmo de estratégia muito mais lento que o ritmo da equipe, essa situação criará uma distância entre as atividades diárias e a execução da estratégia frustando da mesma forma este tipo de equipe. Não é também uma questão de ter poucos ou muitos objetivos estratégicos, pois com a cadência correta e constante todos poderão ser atingidos, bastando que a expectativa de tempo esteja ajustada entre os interessados.

Temos que antes de tudo conhecer quem somos, o que temos de recursos e qual o ritmo possível.

Para conseguirmos a cadência correta temos que conhecer o ritmo da empresa e adequar a estratégia a este ritmo. A adequação da estratégia envolve, além dos objetivos que queremos alcançar, o modo como vamos acompanhar o caminho até eles. Para tanto, precisamos dar visibilidade de como as coisas estão acontecendo no tempo, de modo que não gere frustração indevida e nem tranquilidade demasiada. Todos devem saber onde estão e concordar quando estão aquém ou além do esperado. Nesse campo da comunicação entram os indicadores de desempenho da estratégia.

Estes devem ser bem formatados para que reflitam exatamente a temperatura da operação. Um indicador não pode mostrar uma situação catastrófica se o clima não é catastrófico, assim como não pode mostrar uma bonança quando não está uma “festa”. Sendo assim a comunicação deve estar alinhada com o ritmo. Vamos usar como exemplo o indicador de vendas totais de um departamento comercial. Se a empresa trabalha com fechamentos trimestrais, não faz sentido apresentar um indicador mensal no vermelho, quando todas a negociações são planejadas com a data limite no final do trimestre. A comunicação é importante para não prejudicar a cadência correta. Pois, uma comunicação mal feita pode abalar a cadência e tirar o foco do que é importante. Mas, qual a importância da cadência?

Nos dias atuais os objetivos estratégicos traçados para um determinado período de tempo, podem estar em constante mudança. A velocidade de lançamento de novos produtos, novas tecnologias a comunicação interna e externa, tudo isso gerando um ambiente muito dinâmico. Sendo assim, temos que proteger além do resultado final o processo que conduz a este resultado. As pessoas levam mais tempo para assimilar novas tecnologias, novas formas de trabalho e produtos do que a velocidade com que estas chegam e mudam. Nesse sentido, quando adaptamos o ritmo da estratégia com o ritmo das pessoas, geramos um caminho constante rumo aos resultados.

Mesmo que os resultados mudem, com a cadência correta a equipe continuará trabalhando e se portando com o pensamento estratégico, pois esse ficou enraizado em sua conduta diária. Então, o aparente é o resultado mas o oculto é o caminho correto para este resultado. Nesse caso o oculto é mais importante do que o aparente.

Um plano estratégico define onde a empresa quer chegar, mas seu sucesso se dará somente com o cuidado devido de como se chegará. Desta forma o conhecimento das características da equipe que se tem é fundamental para definir qual será seu ritmo de implementação da estratégia. O comportamento estratégico deve ser perene ao longo da vida da empresa, e desta forma a execução de uma estratégia está muito mais próxima de uma maratona do que de uma corrida de 100 metros. A maturidade de uma empresa se dará depois de vários ciclos de planejamento. Os resultados podem não acontecer nos primeiros ciclos, mas o ganho de longo prazo poderá ser no sentido de obter a maturação de uma equipe disciplinada e experiente na execução das estratégias, independente de quais objetivos foram selecionados para determinado período, mas que estão de acordo com o ritmo possível, mantendo uma cadência constante. Nesse estágio teremos dominado o caminho da estratégia, não importando o tamanho do desafio que teremos pela frente.

Como escreveu Miamoto Musashi no Livro dos Cinco Anéis:
“…Depois de ter dominado o Caminho da estratégia, você poderá repentinamente transformar seu corpo em uma pedra e dez mil coisas não poderão movê-lo. Esse é o corpo de pedra. Ninguém será capaz de movê-lo…”

Para uma empresa, que não tem data para acabar, vale muito mais uma cadência constante do que poucos sprints seguidos de uma estagnação. Para que isso aconteça, esta deverá ter uma equipe que aprendeu a correr longas distâncias e não apenas correu até acabar o fôlego.

Sergio Viola
Sócio e CEO da JExperts

 
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